Quando alguém diz “leve na esportiva”, geralmente se trata de um jeito de explicar, em situações de tensão, que “ninguém está tentado se prevalecer”, que “foi apenas uma disputa amigável”. Talvez, por esse espírito é que o Comitê Olímpico Internacional (COI) não organize um quadro geral de medalhas por países – fazendo aparecer somente os nomes dos atletas.
A contagem que se vê na televisão ou na internet, por exemplo, é uma criação da imprensa americana, seguida pela maioria dos outros países. Mais que repensar uma questão prática, a contagem dos vencedores, as Olímpiadas nos dão a chance de repensar também a utilidade social do esporte.
Segundo o presidente do Conselho Federal de Educação Física, Jorge Steinhilber, ouvido em audiência pública nesta semana em Brasília, a imprensa dos Estados Unidos coloca as regras para as classificações, e os outros países acabam seguindo. Steinhilber fez críticas a esse modelo.
Na perspectiva dele, o Brasil passaria da 27ª colocação para a 8ª nas Olimpíadas da China, caso os esportes coletivos tivessem o peso adequado. Ele se baseia na Carta Olímpica para argumentar, porque o documento leva em conta os atletas e não os países.
O que se tem do COI é um quadro por competição, de modo que a contabilidade-geral das medalhas fica a cargo de cada país, através dos comitês nacionais. Até porque, seria muito difícil estabelecer critérios para uma tabela absolutamente justa. O Comitê Internacional sempre ficaria sob suspeita de favorecer este ou aquele participante.
De algum modo, se houvesse uma contagem, um tipo de pódio para os países, deveria ocupar o primeiro lugar aquele que melhor entendesse o verdadeiro espírito esportivo e não aquele que acumulou mais insígnias. A contagem das medalhas, feita pela imprensa, não está nem aí para a simples e grande diferença entre esportes individuais e coletivos.
Lamartine Pereira da Costa é professor da Universidade de East London, no Reino Unido, e, para ele, especialista em práticas olímpicas, o Brasil pode adotar uma nova contagem, que não torne relevante somente as medalhas de ouro.
Mas, apesar dessa consciência, em Londres, o Brasil aparece na 26ª posição neste momento, hora do jantar de quinta-feira (9). Um incentivo e tanto para nossos atletas em potencial, só que ao contrário, nas longas e cansativas etapas da vida de um atleta de carreira, as baixas colocações do país são um obstáculo em um dos sentidos mais preciosos, o da autoconfiança.
Certamente o esporte é superior à competição, muito embora esses valores estejam frequentemente invertidos. Por outro lado, antes que se pratique esporte com olhos na competição do que se deixe de praticar, como acontece frequentemente em nosso país.
Em linhas gerais, aos 17 anos nossos estudantes dão adeus às práticas de educação física ofertadas pelo governo, quando deixam de treinar para fazer cursinhos pré-vestibular. O lapso vai durar até esse estudante se tornar um idoso, faixa etária para a qual voltam os planos de exercícios.
Nem o poder público nem o capital privado têm controle dos processos que incentivam a prática de exercícios, quem dirá dos processos que formam atletas que ganham medalhas de ouro. Das categorias de base, é preciso dar continuidade até as categorias universitárias. Enquanto se está na universidade é que se pode formar um atleta com segurança para o Estado e para o próprio cidadão.
O governo pode oferecer bolsas de estudo para quem for mais promissor e, hipoteticamente, se ele ficar em último lugar em uma competição futura, pouco importa, porque vai sair das asas do Estado com um diploma de terceiro grau na mão, pronto para contribuir de outras maneiras. A questão não é falta de investimento – quer dizer, não se está sem recursos para executar bons projetos, mas se está gastando com projetos errados.
Quando a preocupação passa pela saúde física e mental das comunidades, sujeitar todos os estudantes universitários à educação física não é nenhum delírio. Há quem diga, muito comumente, que “isso é coisa de escola”, que “ninguém é obrigado”. Mas justamente esse crítico poderia ter um coração que bate melhor, mais força para fazer seja lá o que for e uma mente limpa para todas as teorias que quisesse.
Então os atletas mais bem preparados levariam os nomes das universidades que representam em competições entre as próprias universidades – em um exaustivo melhoramento dos jogos universitários promovidos pelos diretórios estudantis e centros acadêmicos.
A audiência pública abriu um cronograma parlamentar vigente pelos próximos quatro anos, ou, o ciclo olímpico brasileiro. Durante esse tempo, será possível garantir uma política clara de apoio ao esporte. Essa política trata da formação do cidadão, acima da competição.
Medalhas serão uma consequência, virão naturalmente. Atletas precisam de oportunidades cultivadas no verdadeiro espírito esportivo. O Brasil precisa estabelecer uma cultura de prática esportiva dentro de cada escola, no esporte de base, dentro de cada universidade.
Para ter mais medalhas, é preciso mais esporte!
(*) João Arruda é deputado federal pelo PMDB do Paraná e presidente da Frente Parlamentar da Atividade Física para o Desenvolvimento Humano.
Foto legenda (joao arruda1008)
Deputado João Arruda, presidente da Frente Parlamentar da Atividade Física para o Desenvolvimento Humano.
Deputado Federal João Arruda
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(41) 3078-5633
joao_arruda@yahoo.com
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