Em meio à comemoração pela volta ao centro do debate político, a cúpula da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) informou ontem que as campanhas da fraternidade de 2011 e 2012 discutirão meio ambiente e saúde pública, respectivamente. Comunidades e paróquias vão discutir temas como aborto, eutanásia e aquecimento global, assuntos que viraram polêmica ou ganharam destaque no atual processo eleitoral.
Na entrevista para promover a campanha do próximo ano, que terá como tema "Fraternidade e a vida no planeta" e o lema "A criação geme como em dores de parto", o presidente da CNBB, d. Geraldo Lyrio Rocha, e o secretário-geral da entidade, d. Dimas Barbosa, aproveitaram para rebater críticas de que a Igreja estaria se intrometendo em assuntos de Estado.
"Ela não pode ser acusada de se intrometer em temas que levam em conta a defesa da vida. O que a Igreja defende não é a imposição de seus dogmas em uma sociedade pluralista, mas a defesa da vida", disse d. Geraldo. "Estado laico não é Estado antirreligioso". D. Geraldo disse que impedir a Igreja de manifestar sua posição é silenciá-la. "Não vão calar a voz profética da Igreja", afirmou.
Escolha oportuna. Os dirigentes da entidade observaram que as campanhas da fraternidade dos próximos anos foram definidas em junho de 2009, descartando qualquer vinculação com o momento eleitoral. D. Geraldo, no entanto, avaliou que a escolha foi oportuna. "A escolha do tema é feita com muita antecedência, mas tudo é muito providencial. A posição da Igreja na questão do aborto é inegociável". D. Geraldo destacou que a Igreja quer discutir na campanha da fraternidade não apenas o aborto e a eutanásia, "mas todo o desdobramento sagrado da vida". Sobre a disputa eleitoral deste ano, o religioso afirmou que é preciso bom senso. Ele fez essa declaração ao responder questionamento sobre qual seria sua avaliação a respeito do comportamento dos candidatos e do presidente Lula no processo eleitoral. "Os candidatos, os eleitores, os partidos e as lideranças da Igreja devem levar as discussões para o nível que deve ser e não baixar o nível", disse.
A uma pergunta sobre se temas como aborto e união civil de pessoas do mesmo sexo não estariam sendo discutidos de forma superficial, ele respondeu que "toda moeda tem dois lados". E acrescentou: "É inconveniente por um lado, mas tem uma vantagem. Afinal, o tema aborto tinha de entrar em pauta". D. Geraldo avaliou que a CNBB não pode responder por "reduções no debate". Para ele, a Igreja não sai rachada da eleição. "Só haveria um racha se houvesse divisão naquilo que é fundamental. Ninguém está defendendo o aborto dentro da Igreja." Ele destacou que a CNBB não tem candidato. "Ela apenas indica critérios para que o cidadão possa exercer bem sua cidadania."
Leonencio Nossa / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
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