O freio do ônibus o desperta. Com as orelhas em pé e a esperança renovada, o cachorro corre até a porta de desembarque do coletivo. Aflito, fareja os degraus, os passageiros, o chão. Parece buscar algo, alguém. O veículo parte e, resignado, o animal volta à parada. Ele não tem nome nem raça. Há mais de uma semana, repete o movimento e comove os funcionários da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase), na Avenida Padre Cacique, em Porto Alegre. A certeza de todos é só uma: o bicho procura pelo dono, que o teria abandonado.
— Ele não sai daqui. Não aceita que chamem, não sai do lugar. Ele come olhando para os ônibus, fica ali o tempo todo. Mesmo quando chove, ele não procura abrigo — relata o monitor Aluísio Cruz de Almeida, 52 anos.
O animal é alimentado por funcionários da Fundação. A refeição, sempre no fim do dia, é degustada com a boca no pote e o olhar direcionado à rua.
— Ele come feito um condenado, mas não tira os olhos dos ônibus — afirma Aluísio.
O reduto do cão é uma lixeira laranja, posicionada perto da parada de ônibus. Alguns passageiros ainda tentam passar a mão nele, mas o bicho é arisco.
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